quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Que horas são?


“Eu vejo o futuro refletir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára não.”
- Cazuza

Não sei,
Se é o velho refletindo no novo
Ou se é o novo refletindo no velho
Mas a perspectiva é igual
Provavelmente,
Vejo as novidades
Dentro do museu

Sabe,
Fora as grandiosas criações humanas
E as maiores destruições humanas
O chão continua o mesmo
E o céu mais azul

Embora,
Os olhos diferentes,
Continuamos brigando contras os mosquitos
E pedindo abrigo contra a chuva
Tanta modernidade

Mas, A Senhora Morte ainda nos visita
E ainda visitamos os cemitérios
Continuamos com muitos tratamentos
E mais perguntas do que repostas

Só me resta pedir, que horas são?

Mayara Floss

domingo, 12 de dezembro de 2010

Palavras

Cansada
De tantas regras
E poucas aplicações
Leis, protocolos -
cabisbaixos

Cansada das palavras
que fazem muito sentido
E pouco significado
E não saem do vocabulário

Frases repetidas
Para sentimentos diferentes
Cheio de idiomas
Mas de poucas línguas

Tantas palavras
E falam tão pouco!
- A política é igual
em qualquer lugar.
- As famílias só mudam
de endereço?
- A vida é difícil para cada um?

E eu endereço minhas
correspondências,
Esperando correspondências
No silêncio do papel

Tantos leitores
Sedentos pelo "conhecimento"
Tantos sem saber
Mas cheios de línguas
E sedentos

...

Ainda espero que as palavras
Ou ao menos os olhos
Salvem minhas orações

Mayara Floss

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Natal


Engraçado
Papai Noel na Chaminé
Peru para jantar

Frio dos filmes
Mas calor tropical
Engraçado

Papai Noel
De manga comprida
Será que não sente calor?

Renas? Trenó?
Pinheiros de natal
Flocos de Neve?

Mais fácil Papai Noel, aqui
Descer pela churrasqueira
Ser puxado por araras,
Ou ir voando de 14 bis,
E usar calções floridos
de verão.

Mayara Floss - In: Falta um poema...

domingo, 5 de dezembro de 2010

Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - Vol. 72

Caros,

É com muito contentamento que vi meu nome entre os poetas (poesias) selecionadas para a "Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - Vol. 72" promovida pela "Câmara Brasileira de Jovens Escritores" (CBJE). O poema escolhido foi "Desinventar" que você pode encontrar aqui no blog também. Os livros podem ser adquiridos pelo site e o lançamento será dia 10 de janeiro de 2011. A antologia também tem uma edição online, você já pode encontrar meu poema na antologia clicando aqui.

Feliz,

Mayara Floss

sábado, 4 de dezembro de 2010

Francisco


Tinha muitas coisas para falar
E poucas palavras para ouvir
As mãos entrelaçavam-se
Repletas de quietude

E de rio e de santo
Francisco tinha os olhos
Construia os seus dias
Em qualquer escadaria
De papelão em papelão

Francisco escondia
por trás dos óculos
Aquela lágrima que escorre
por dentro

E carrega na face
cada olhar que preferiu o chão
ao seu são silêncio

Sabia que a vida
não passava da rua
E a rua da próxima esquina

E fazia uma prece pedindo perdão
Pelos homens cheios de fala
e mortos de silêncio

Mayara Floss


domingo, 28 de novembro de 2010

Maria


Maria doou suas roupas velhas
Se desfez do perfume antigo
E deixou aquelas músicas
Colocou AM ao invés de FM

Aos poucos todos aqueles objetos
carregados de sentimento
Foram perdendo o seu valor
Para entrarem no rol de apenas objetos

Maria se desfez da máquina de costura
Estava cansada de remendar seu coração
Adotou as cicatrizes
E deixou o tecido recompor-se

Maria cansou do feijão,
da louça, das florezinhas da praça,
da praça.
Cortou os cabelos

Maria deixou de ir com as outras
Abriu as gavetas
E esqueceu as roupas na chuva
Perdeu aquele trem

Maria jogou as calcinha velhas fora
e rejuvenesceu com isso
Perdeu os sapatos apertados
E pintou as unhas de vermelho

E depois de tudo,
continuou tão Maria quanto antes.

Mayara Floss

domingo, 21 de novembro de 2010

Sinestesia


Estava procurando um poema
Que se encaixa-se nesse sentimento
Minto
Estava procurando um sentimento
Que se encaixa-se nesse poema
Minto
Porque poemas e sentimentos
Continuam cheios de palavras
ou cheios de mentiras

Mayara Floss

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Quadros


Faça um som ruim
Para me despertar,
Conte tudo sobre a tua vida
Mas nunca fale do coração

Encontre a receita da felicidade
Na banca de revistas
Mas, claro, alguém sempre já
versificou antes

E a sua mão vai estar
na loja da esquina
Não esqueça de pedir o segredo
e alguma esperança de brinde

Não é culpa sua
Se trocar os sentimentos pela nova moda
Porém, não esqueça de trocar
os canais da televisão

Também, não saia do ritmo
que a alegria é a próxima
mercadoria de jornal

Tantas cartolas já saíram
dos meus coelhos
Que o meu rock
mais parece samba

Deixei as cartas no portão
E essa noite o sol vai brilhar
Mas não prometa nada
Pois já rubaram o brilho da lua

E o próximo eclipse
Esta na prateleira de qualquer lugar
Já procurei consolo
Mas o remoto controle não tem a geografia
Das tuas mãos

Embora não precise se preocupar,
Pois para todo nó na garganta
Existe uma superstição

Mayara Floss

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Exílio

Foto: Fabiano Trichez

E na sua escuridão
Ficava mudo
Só lia as sombras
Não encontrava as palavras
Apenas escutava as corridas
O campear, as asas
E as cordas golpeadas
Perdidas no silêncio
Vibravam como um tormento
E ele apenas pedia tempo
Para soar uma lembrança
Uma lágrima, uma desesperança
Sentia o pago iluminado
E sabia que a noite tinha convidado
A campear a volta
Com as estrelas de escolta
A procura da sua querência
Pedia em cada despedia
Para orar em sua ausência
Solitário sentia a melodia
E a sua cicatriz ardia
Procurando o seu exílio
Contava a sua história
Revivia a sua memória
Sentia a batalha em seus dedos
E via o último instante da navalha
Do fogo e apenas lembrava
Da última imagem da sua amada
E de tanto procurar,
Às vezes pensava
Se naquela escuridão
Ainda iria encontrar
Motivos para sua canção
E deixava os versos dissonantes
Guardava as lágrimas
Para quando iria deixar de ser errante
E abraçar a sua prenda
Antes que o tempo o prenda
Nos espinhos da Rosa Flor
Seu eterno amor
E nos braços da sua amada
Reencontre a sua morada

Mayara Floss

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Formalidades

Foto: Fabiano Trichez

As maiores formalidades não passam de pés descalços.

Mayara Floss

sábado, 23 de outubro de 2010

Quem sou eu?

Foto: Fabiano Trichez

Já sentou na beira do mar procurando o horizonte?
Tentando descobrir onde o sol nasce
E a lua se põe?
Traçando a linha entre o céu e o mar
A indefinição entre dia e noite
E o reflexo da cor do céu na água
Ou a pagua que reflete o céu
Eu sou o horizonte
Quando abraçá-lo
Provavelmente ficarás sem definições

Mayara Floss

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Grafite

Foto: Fabiano Trichez

O grafite arranha a folha de papel
que deixa-se escrever
A folha arranha o grafite
Riscando as próprias entrelinhas
Acaba-se o lápis
Mas deixa-se um legado de palavras
E eu apenas evelheço entre o atrito
dos versos
Sou preto-e-branco
nos meus poemas
E colorida em grafite

Mayara Floss

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Aniversário


Hoje o "entre-primos" faz um ano. E depois de muito tempo sem nos ver (afinal, ele em SC e eu no RS), sentamos em um muro para conversar sobre o trabalho. Depois de muito esforço já podemos ver nosso sentimento correndo por outros blogs, algumas entrevistas e, espero que o principal, as nossas palavras e sentimento chegando até o leitor. Afinal, poemas não tem dono apenas aquele que lê e sente e se torna o dono do sentimento. Parece pouco, mas deixamos as nossas impressões e marcamos os momentos (pelo foco da máquina ou pelo lápis) e tentamos dividi-lo da melhor maneira possível com vocês. Deixo este poema para comemorar o aniversário do blog:

Poema sem dono

Poema não tem dono
Não faz aniversário
Muitas vezes é feito
de sentimento esquecido
Esquecido fica
Ilhado nas palavras
Palavras que não cheiram,
não pagam, não olham
Apenas esperam...
Pelo sentimento
Que guarde
dentro do próprio
coração

Mayara Floss

domingo, 10 de outubro de 2010

...

Foto: Fabiano Trichez

...Esqueceram os versos
Os adjetivos
Os substantivos compostos
E de tanta compostura
A postura se perdeu nos braços
E os abraços nas linhas
Das entrelinhas dos calçados
Descalços e cansados
Descansados e calados
Alados no amor
Desamados no calor
Calorosos no frio
Frívolos no verão
Eram tantas vezes
Que vez ou outra
Outro esquecimento
No cimento das horas
Oras sentidas
De sentimento
Que até os versos
Versaram sobre o seu esquecim...

Mayara Floss

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Hoje não há poema

Foto: Fabiano Trichez

Hoje não há poema
Porque há lágrimas
Que ninguém divide
Eu divido as minhas

Mas ninguém
as compartilha.
Melhor televisão
Claro!

Novela e jornal
Jornal e Novela
A dor das protagonistas
Todo mundo divide

Mas sobem os vidros
Fecham as janelas
Desligam os interfones
Bloqueiam os telefones

O menino lá fora
Quer pão...
Trocar a novela?
Claro que não!

Mayara Floss - In: Falta um poema...

sábado, 25 de setembro de 2010

Tempo



Foto: Fabiano Trichez

O tempo foi riscando
Cicatrizando
Marcando
Rosto, mãos, pele
e coração

Cada alegria foi deixando uma marca
Uma experiência
Um risco
- rabisco

Foi contornando minh'alma
Levando minha calma
Quando olho para o horizonte
às vezes vejo a gente

Conduzindo a indesejada pela estrada
Ou a estrada conduzindo-a
- com e sem tempo

Mayara Floss

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Frações

Foto: Fabiano Trichez


Confesso que quero minha vida-poesia
Minhas rédeas soltas
E menos uma estatística
Na minha vã filosofia

E peço para todos os místicos
Uma sentença
Para o meu desconforto

Às vezes esqueço que
o lado esquerdo é o do coração
Me desculpe mas deixei cair os dados
E espero que minha fé não seja em vão

Perdi meus documentos
E penso num disco voador
Na minha sacada
E deixei minhas crenças na mesa

E se o vinho manchou a toalha
Espero que o futuro
Não passe deste infortuito
E que a vida fique por medida

No infinito dos dias
das frações do tempo
Divididas de mão em mão

Deixo minhas palavras ou meu
Silêncio para a próxima música
tão eterna quanto este instante

Mayara Floss

domingo, 12 de setembro de 2010

Esqueci

Foto: Fabiano Trichez

Esqueci os jornais
Revistas
Dicas

Esqueci os comerciais
mesais
diários

Esqueci os dias
horas
datas

Comprometidamente esqueci
Da intensa (des)aprovação
Que ficam medindo

Calculando
Definindo
Reduzindo
Amarrando

O relógio ensurdecedor
Nos seus arraigados segundos
Apenas ficou pendurado na parede
Na sua rede de engrenagens
Parei de reduzir o tempo
nos compr(omissos)

Mastigando o nosso sono
Os dias passam, e a vida fica
E o câmbio do dólar?
Dossiê de mentiras?
E a bolsa de valores?

Ando desvalorizando
Vendo mais as prateleiras
Do que as verdades
Da roseira
Que brota do chão
de cada esquina

E sinto apenas os espinhos
De quando me tocam a mão
E deixo cair os panos
Abrir as cortinas
Para a vida que eu esquecia

Mayara Floss

domingo, 5 de setembro de 2010

Medicina


Branco
Limpo
Antisséptico
Anti-inflamatório
Antiespamódico
Anticoncepcional
Antiambulatório
Antissocial
Consultas
Multas pela correria
Pela redução do tempo
E o lucro ascendente
Paciência, paciente, prescrição
Plano-de-saúde
Saúde sem plano
Receita específica
Oncologia
Pediatria
Imunologia
Geriatria
Carfiologia
Tecnologia
gia, gia, gia
E cada vez mais doentes
Descrentes
Pacientes
Atestados
Testados
Sentados, sinais, sintomas
E quando mais se usa
O estetoscópio
Menos se (aus)escuta
O coração

Mayara Floss

sábado, 4 de setembro de 2010

Amizade

Foto: Fabiano Trichez

"Faz seus versos rodeados de amigos
E educa os ouvidos no canto de alguém"


Para todos aqueles que posso chamar de amigos

Falando sobre o amor
Surgiu este poema
Que tantos estranhos
Dizem sentir
Mas meu irmão está dentro
de você
Quando as luzes apagam
E os violões desafinam
A garganta ainda arranha
Pelas melodias
E eu acredito
Que ter falado
Meu grande amigo
Que as palavras são poucas
E a areia da lagoa
Deixa as nossas pegadas
E em cada remada da vida
Alguns ficam para trás
E levam um pouco
Do meu coração
E ficam os acordes
Para as próximas músicas

Mayara Floss

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Desinventar

Foto: Fabiano Trichez

"Você que inventou esse Estado/Inventou de inventar/Toda escuridão/
Você que inventou o pecado/Esqueceu-se de inventar o perdão (...)/
Você que inventou a tristeza/Ora tenha a fineza
de 'desinventar' "
Chico Buarque

Ultra-mega-micro
Minúsculas invenções
Nano emoções
Macro tristezas

Grandes descobertas
Pequenos corações
Ultra depressões
Acopladas em um átomo
de sentimento

Dieta-moda-remédios
Cápsulas de milagre
Arranha-céus de desejos
Tudo dentro de uma cédulazinha

Idealmente abstrato
na (des)personalidade nossa
Do infinito mundo de genes
e do microscópico universo de ideias

Essencialmente criados, mas
Mesmo que tenham inventado
A teoria da gravidade,
As maças já caiam antes

Mayara Floss

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Conmigo

Foto: Fabiano Trichez

De repente
Me inundé con un sentimiento
Eso me ha visitado
A una mayor intensidad
y me parece que me ahogo
Cómodamente

Y los años no cambian
Me siento como si
Llegase a tus manos
Y traer a tu corazón
Conmigo

Cada vez más
Y como un sueño
Despierta mi en esta ola de nostalgia
Cubierto con sentimiento
Y tal vez con buenas noches

La distancia de tu haz
Y la proximidad de las manos
Parecén cliché
Excepto para mi corazón
Deje el tiempo

Mientras tanto
Encima de la escalera
Me senté a cantar horas
Y al vibrar de la última
Mis versos resuenan
En un día a más
y un día menos
Mayara Floss

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

o(ração)

Foto: Fabiano Trichez

... Oração
...... ração
........ ação
......... são
.........ação
...... ração
... Oração

Amém.

Mayara Floss

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Palavras

Foto: Fabiano Trichez

As melhores palavras
São aquelas não ditas
Mas pronunciadas com um olhar
Declamadas com um carinho
Sentidas com um abraço
Suaves como um beijo
Ou gritantes no seu silêncio

Mayara Floss

domingo, 1 de agosto de 2010

No caminho


Foto: Fabiano Trichez

Não importa
Sempre
Toda a despedida
É como a primeira
Ou mais dolorida
Ou menos feliz
Porque amamos
E separar-se
E perder um pouco de si
No caminho

Mayara Floss

quarta-feira, 28 de julho de 2010

(Inspiração)

Foto: Fabiano Trichez

Há tanta inspiração
Que tenho respirado muito
E inspirado pouco
Deixo meus pulmões
Repletos
Minha garganta cheia de palavras
E minha mente apenas
Respirando
(Inspirando)
Tudo pode entrar pelo meu nariz
E sair pelos meus olhos
Mas meus poemas
Não enxergam nada
Não sentem nada
Não pulsam
Mudos, cegos e surdos
Apenas respiram

Mayara Floss

domingo, 11 de julho de 2010

Ressaca

Foto: Fabiano Trichez

Com que desamor
Ou obstinada paixão
Deixam-se derramar
Os loucos suícidas

Não pela morte
Não pela vida
Mas pelo mar

Vi a lua se afogar
várias vezes
E continuar a refletir
Os raios do sol

Vi os barcos afundarem
Na turgidez marinha
E navegarem de volta
Contra todas as apostas

Vejo ainda
O sol morrer a cada horizonte
E renascer todas as manhãs

Vi as luzes flutuando
Nas águas calmas
encostando em minh'alma

Passaram os aniversários
As velas, os bolos
Enterrando a maré de histórias

E de todas as tortas estatísticas
Ou gauches probabilidades
O mar continua no mesmo ensejo

Abraçando a areia
e trazendo pirata tudo de volta
Na ressaca dos corsários perdidos

Mayara Floss

sábado, 10 de julho de 2010

Trabalho Aleatório



Saindo um pouco da rotina do blog, um pouco de música. Eu tocando balde e o meu amigo-colega tocando violão na música "O anjo mais velho" do Teatro Mágico. O som não ficou muito bom, mas espero que gostem.

Mayara Floss

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Dignidade

Foto: Fabiano Trichez

Na sincronia das cidades
Dos uniformes preto-branco
(a salvo algumas crianças coloridas)
Varrem, laranjas a sujeira dos outros

Sacolas sobrevoam a calçada

Aliás até o céu tornou-se cinza,
Acostumado com o asfalto

Tocos de cigarros

Há mais dignidade nestas mãos
Que limpam a sujeira dos outros
Do que naquelas de terno e gravata
Trabalhando com as contas mais sujas

Calçados impecáveis

O que menos chega ao chão são folhas
As sombras são de concreto
E o frio é a falta de calor
Que passa pelo coração da cidade

Publicidade amassada

Só eles sabem o quanto suja
As pegadas sicronizadas,
Nossos corpos de plástico,
E varrem nossa alma de papel

Mayara Floss

domingo, 20 de junho de 2010

Ser azul

Foto: Fabiano Trichez

Sinto minha alma azul
Como este mar que se estende
na minha frente
Sinto-me azul
Como este céu que me envolve
na minha mente

Embora por dentro
eu esteja branca
Como uma página em branco
Á(vida)...
Por um pouco de tinta
Que possa desenhar

Quem sabe procurar
as minhas linhas
Para encontrar meu corpo
E escrever-me entre o céu
e o mar

E buscar o meu reflexo no azul
Sem saber se minha imagem
Era céu, era mar
Ou era um avião de dobradura...
Voando pelos corais
Ou era um barco de papel...
Navegando pelas nuvens

Certamente, um bom pescador
Irá encontrar uma
isca nas minhas palavras
Ou um bom aviador
irá encontrar a rota
dos meu versos

Enquanto isso,
Continuo refletindo
azul

Mayara Floss

terça-feira, 15 de junho de 2010

Res(pingar)


De cada lástima, de cada pingo
O rio da vida que corre
Mais morre
E vai deixando os res(pingos)

Encanamentos, torneiras, canaliz(ações)
E as nossas in(críveis) realiz(ações)
Vão guiando, desviando
E criando novos meandros

Embora, neste rio que deságua
Não tenha peixes
A vida se desvai em um feixe
E muitas lágrimas de água

Correndo entre os vãos
Da "civiliz(ação)"
Deixa cada pedaço de chão
Sedento por um pingo de atenção

De cada lágrima, de cada pingo
O rio da vida que corre
Mais morre
E vai deixando...

Mayara Floss

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Teatro

Foto: Fabiano Trichez

Pela cidade
Todos me parecem
estranhos conhecidos
Amigos antigos
Que escreveram alguma história
e perdeu-se no tempo

Tudo parece mais verdade
Embora os sonhos continuem
do mesmo tamanho
(mania de ser tudo grande ultimamente)

Fantoches na calçada
- Bom dia, tudo bem, obrigado.
e o relógio imperdoável:
- Oi, estou atrasado.

Aliá, sempre estamos atrasados
Sempre atrás
E para trás ficam nossos passos
Entre um ponteiro e faixa de pedestres

Ensaiamos os caminhos
Decoramos as falas
e esquecemos que já somos
protagonistas do nosso teatro.

Mayara Floss

terça-feira, 25 de maio de 2010

Pescador

Foto: Fabiano Trichez

Os olhos perambulam a rede
E a mão contrai-se em contato
com os fios finos
As cicatrizes já nem são tão grosseiras
O tempo deu conta
Tracejou a face do pescador

Cada instante de sol e mar
chegou na sua pele
como cada peixe
chegou na sua mão

O sal transformou-se em lágrimas
como um barco distante
Que foi tragado pelo céu-oceano
Mas ainda ficaram eternas
as pegadas na areia
E as lágrimas já se transformaram
em sal, oh, pescador

Mayara Floss

terça-feira, 18 de maio de 2010

Roubaram

Foto: Fabiano Trichez

Roubaram a luz
E deixaram pendurada
Em algum lugar
Iluminando
a escuridão abandonada

Roubaram a escuridão
E a deixaram abandonada
Em algum lugar
Assombrando
a luz pendurada

Mayara Floss

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Cadeiras

Foto: Fabiano Trichez

Desta fileira de cadeiras
Desse corredor
Sobrando lugares
Faltando espaço

Onde vou sentar
Para deixar o ponteiro do relógio
Distorcer o tempo
Vencer o chão da espera

Continuo em pé
Continuo com minha planta
pregada ao chão
E a sombra das cadeiras

Diz que quanto mais se vive
Menos se tem para viver
E no limiar do tempo
Continuo (i)móvel.

Mayara Floss

terça-feira, 4 de maio de 2010

A porta

Foto: Fabiano Trichez

"É muito mais fácil matar um fantasma do que
matar uma realidade." - Virginia Woolf


As portas estão cada vez maiores
E as oportunidades menores
A beira da escada
Exitem tantos motivos
Que um abismo separa o abrigo
E deixa-nos sentados

Com frio
Com fome
Com medo

A sombra no canto da porta
Tem a esperança
Que os muros sejam menores
E que ao menos haja espaço
para os sonhos
Porém, há uma barreira

Sem piedade
Sem horizontes
Sem conveniência

Aliás, inconveniente
Presença censurável
De um mundo que tem todos os
números um
E não tem espaço para mais nenhum
Inviolável

Proibido entrar sem camisa
Proibido correr
Proibido cruzar esta cerca

Estamos cada vez mais esfomeados
Do tamanho da nossa fome
Vemos mais o anúncio
Do que o nosso estômago
E comemos os programas

Fome de novela
Fome de desenho animado
Fome de telejornal

Mesquinhos, continuamos sentados
Assistindo do nosso sofá
Enquanto outros sentam no cimento
Com os olhos cegos
de fome e a boca seca de ver

Faltam portas
Faltam janelas
Falta teto

E o nosso olhar de avestruz
Esconde-se no buraco da ignorância
Nós continuamos sentados
e eles continuam sentados
Esperando a porta abrir

Mayara Floss

Menina

Foto: Fabiano Trichez

E estes teus olhos sérios,
em que lugar ficou perdido teu sorriso?
Em que lugar frio
cairam as contas do colar
e (des)fizeram os teus sonhos?
Onde da tua infinita beleza
ficaram as tuas alegrias?

E estes teus olhos negros,
sérios,
me deixam com a garganta amarrada

E é essa indiferença
ou o meu excesso de meu amor
Que me perguntam:
- Em que lugar ficou perdido o teu sorriso?

Mayara Floss

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Alma limpa

Foto: Fabiano Trichez

Com o tempo
Fui despindo-me
Deixando cada pedaço
Soltando cada sentimento
Foram caindo
Os receios, os medos,
os anseios
Fui ficando transparente
Encontrando aconchego
Perdendo as ilusões
Deixando de ser mais paixão
Fui confundindo
o céu e o mar
Fui deixando minhas pegadas
Apagando meus descaminhos
Minha alma foi ficando nua
Logo, meu barco não era partida
Não era chegada
Nem era porto
Nem era sem saída
Talvez, quase mar
mas não era céu
E então
meus olhos limpos
puderam dizer, enfim,
que sou apenas
amor

Mayara Floss

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Partida

Foto: Fabiano Trichez

Dedicado, com carinho, a Daniel A. B. Modolo

Tenho pavor de rearrumar as malas

Meias, sacolas de roupas sujas, calçados, carregador,
máquina, chave, aviso, passagens e a sensação
de estar esquecendo algo

E o inevitável sentimento de partida,
de volta a rotina
sem a presença

De ser forte o suficiente para segurar
o rio de lágrimas que transborda dentro de mim

E a alegria que me faz oscilar sem saber
se foi um sonho ou realidade,
Porém agora um passado que vibra na minha pele
Arrepia o meu corpo e me perde em ti
e na tua falta cheia de carinho

Embora acordada neste sonho-realidade
Sua marcas pela casa e tua ausência
parecem presente em cada canto
e neste presente de saudades
Brindo-te com este poema
De uma poetisa apertada
Que sente no peito doce
um gosto amargo
de saudades

Mayara Floss

domingo, 18 de abril de 2010

Renovação

Foto: Fabiano Trichez

Há tempos que preciso
Tirar as amarras
As roupas usadas
Que já sabem os meus caminhos
Aliás, caminhos sempre iguais

Tenho que perambular
Pelos cenários novos
Pela geografia da tua pele
Da calçada de uma estrada incerta

Tenho que tirar meus sapatos
Sujos
Da mesma areia, do mesmo pó,
Do mesmo pé
Dos mesmos passos

Tenho que desligar o fogão
Fechar o gás
E sair se medo deixar nada
Para trás
Exceto minhas pegadas
Minhas marcas
E meu sorriso

Mayara Floss

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Até algum lugar

Foto: Fabiano Trichez

Meu teto é o céu
e minha casa não tem
Paredes...
Meu chão é todos os lugares
E se eu não vou até
algum lugar do mundo
O mundo me leva
até algum lugar...

Mayara Floss

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Vagando

Foto: Fabiano Trichez

Neste calor
Na sombra das árvores
Na calma da água
Deixo-me deitar

Deixo-me espreguiçar
e ficar com mais preguiça
Divertir-me
com o mais simples

Simplesmente o mais incrível
Deitar minha barriga
E deixar meus pensamentos

Vagando

E neste calor
De uma tarde qualquer
Deixarei, provavelmente,
minhas pegadas
em um chão limpo qualquer

(Para o desassossego daqueles
que reclamam do calor)

Mayara Floss

terça-feira, 6 de abril de 2010

Voar

Foto: Fabiano Trichez

Se eres para me fazer voar
Solte meus pés do chão
Abra minhas asas
Abrace-me

Transforme as luzes da cidade
Em um tapete
O mar em um novelo
A terra em um ponto

Que a distância
é pequena.

Se eres pra me fazer voar
Traga-me um sorriso
(sem pedidos,
mas com amor)

Acenda a luz das estrelas
Roube um pedaço do céu
E sinta a brisa no rosto

Que a distância
é pequena.

Se eres para me fazer voar
Vamos bem alto
Que os sonhos são gigantes

E a distância
é pequena.

Mayara Floss

domingo, 21 de março de 2010

Destino

Foto: Fabiano Trichez
Para ti
Por susto
Ou insensatez
Crença ou descrença
Pego-me (des)acreditando
Acaso caio em teus braços
Ou o tempo anda confabulando
Como um velho trem
Repetindo o caminho
Voltando para casa
A cada estação
Marcando um horário
Um momento
Deixando meu coração
Para ti
E eu olhando pela janela
Descubro que nunca sai
Destes mesmos (a)braços
Mayara Floss

quarta-feira, 17 de março de 2010

Conspiração

Foto: Fabiano Trichez

Do céu azul
Fez-se escuridão
E as lágrimas
que não desceram pela minha face,
A chuva chorou por mim
O céu tremendo
Suplicava em luz
Conspirava o meu sentimento
E o pranto das nuvens
Falava pelo meu silêncio
Contemplando o céu em fúria
Não sabia se era o meu coração
Que de tanta ausência
Encontrava-o presente
E de tanta presença
Continuava ausente
Conspirando, por um momento
O céu pulsou meu sentimento
Desenhando no céu
Teu coração distante

Mayara Floss

quarta-feira, 10 de março de 2010

Sem Tradução

Foto: Fabiano Trichez

Já tentaram em todos o idiomas e linguagens existentes desde os primórdio da humanidade codificar o sentimento que carregamos no peito e nomeamos amor.

Os matemáticos definiram como o infinito.
Os químicos como as ligações.
Os gramáticos como substantivo abstrato.
Os físicos como atração.
Os sociólogos como relações.
Os atronautas como estrelas.
Os pescadores como o mar.
Os religiosos como a fé.
Os médicos como os pacientes.
Os músicos como a música.
e os poetas, ó poetas, procuram uma tradução.

Mas o cunho vernáculo do vocábulo continua tão amplo e complexo que continuamos aprendizes na ciência de amar. Continuamos amando sem saber explicar:continuamos sentindo sem saber calcular o fim, continuamos encontrando ligações sem sentido, continuamos querendo classificar em notas de rodapé, continuamos procurando os pólos, continuamos formulando teorias de relacionamento, continuamos fascinados pelo universo, continuamos perdendo-se nas ondas, continuamos crendo, continuamos procurando a cura, continuamos criando melodias. Continuamos...

Definir amor é limitar dentro dos parcos conhecimentos humanos as engrenagens que movem nossos corações. Nesse contexto, somos apenas poetas, ao menos eu entre tantas definições sinto meu peito vibrar e apenas amo. Embora o homem insista em encontrar uma solução para o amor.

Mayara Floss

domingo, 7 de março de 2010

Ralo de idéias

Foto: Fabiano Trichez

Inevitavelmente
Gotejando, descendo,
Algumas idéias, rolam pelo ralo

Não para serem descartadas
Nem para adentrarem
No lodo dos sonhos perdidos

Mas para penetrarem
E ficarem confusas
Nos lugares mais recônditos

Mas tocáveis na primeira lembrança
Transbordando as linhas
Ultrapassando o inconsciente
E renascendo como criança

Mayara Floss

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Campo

Foto: Fabiano Trichez
A terra acaricia os pés
E as linhas da mão
entalhadas profundamente
A pele riscada pelo sol
E os olhos inundados pela chuva
(a mais) ou pela seca

Ano-a-ano
O corpo foi se desenhando
Se moldando a terra
Conhecia das plantas, dos pássaros
do leite

Logo ali
em frente
Via brotar um novo organismo
(cinza)

A nova praga consumia o sol
Desviava a chuva
Destruia a terra
Escondia o céu

Sentava o campônes indefeso
Assistindo a chaga espalhar-se
Consumir-se
Até engolfá-lo

Tirando sua terra
Desgostando sua mão
Criticando suas marcas e
deixando seus olhos secos

Mayara Floss

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Amor

Foto: Fabiano Trichez


É.


Mayara Floss & Daniel A. B. Modolo

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Ninho

Foto: Fabiano Trichez

Abraçado pela árvore
Embalado pelos galhos
O ninho abriga os olhos
O carinho do passarinho

Aquecendo os futuros filhotes
Os futuros cantos
Os próximos vôos

A mãe aquece o ninho
Como aquecemos nossos sonhos
Preparando-os para abrir as asas
Para ganhar a altura da realidade

Sair debaixo da proteção
Do talvez,
Para ganhar o enlevo de nosso peito

E depois de alçar vôo
Nós, como todos pássaros
voltamos a construir um novo ninho
para embalar nossos corações

Mayara Floss

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Pela casa

Foto: Fabiano Trichez


Tudo se espalha pela casa
Quando vês já um pijama,
uma escova de dentes,
um livro.

Um pedaço de abrigo,
um rastro de perfume,
um passo silencioso.

Uma anotação,
um verso,
um afago suspenso.

Um travesseiro,
um olhar invisível,
uma ausência presente.

Uma presença ausente,
um calor,
um abraço sem braços.

...

A dificuldade é partir,
Recolher tudo
e continuar espalhado.

Mayara Floss
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...