terça-feira, 11 de setembro de 2012

Rádio Relógio



“Todas  as  madrugadas  ligava  o  rádio  emprestado  por  uma colega  de  moradia,  Maria  da  Penha,  ligava  bem  baixinho  para  não acordar  as  outras,  ligava  invariavelmente  para  a  Rádio  Relógio,  que dava ―hora certa e cultura‖, e nenhuma música, só pingava em som gotas que caem – cada gota de minuto que passava.” – Clarice Lispector em “A hora da estrela”

Que medo das horas pingando
No relógio.
Para facilitar, talvez seja só partir
(e fechar a porta)

Mas deixes o rádio tocando
Para ver se as paredes ouvem a música
que tanto gostas

Para sentir se elas escutam o gosto
da tua presença
Enquanto o relógio goteja
Mesmo com o corpo e o tato distantes
(Contando o tempo por ti)

Equalizando essa frequência
de ausência
Balançando os ponteiros

Partas, mas sem esqueceres
Que toda a programação do rádio
- Diz as horas.

Mayara Floss

2 comentários:

  1. Mesmo em meio a tantas divagações que o tempo provoca, é possível não perdermos a hora. Beijos!

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  2. O importante nesse sonho é não perder a hora. Lindo poema! Abraços

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