O tempo pode ser uma unidade musical. Um espaço entre os ponteiros do relógio. Uma previsão. Um formato verbal. O tempo é a unidade que nos separa do nosso nascimento até a morte. Porque o tempo é a consciência de si, do envelhecer e das modificações. O tempo não para. Ou melhor, o tempo só tem valor com a intensidade do que se vive. Não existe falta de tempo, mas falta de intensidade. Entramos em rotinas que colocam nosso tempo em uma escala de ontem, tudo é para ontem e o que pode postergar é para amanhã.
E assim vivemos em função do que passou e o que podemos dividir para amanhã. O presente, não é aquilo que recebemos (ou não) no natal ou no aniversário. O presente não é tempo verbal, nem uma unidade musical, nem a distância entre os ponteiros do relógio. O presente é o que te move, o que movimenta o teu interior o que te conquista a cada dia e aproxima-te do teu final e afasta-te do teu início. Não, falar de final não é ruim, é o ciclo. É parte do todo que fizemos. Porém, no final é que queremos as coisas diferentes e não no presente, é sempre no final que pensamos que poderíamos ter feito diferente.
É perto do fim que pensamos sobre porque não parei de fumar, brigar, trabalhar, beber. É no final do namoro, do casamento, do mês, da faculdade, do trabalho, do mestrado, do doutorado, do estágio, do ano e no final dos finais, da vida... É no final que queremos a intensidade do presente, que pensamos e refletimos sobre o que passou. E aí entramos na questão dos prazeres, porque antes viver bem poucos anos do que ter uma vida longa. Será?
Por medo de julgamentos é melhor não se expor, não mostrar os sentimentos. Todo o tempo com medo dos erros, de errar e na tentativa eternamente frustrada de ser o melhor. Muitos dizem que vão aproveitar o tempo nas férias, naquela viagem, ou no feriado. O inquietante disso é: o que fazes no resto do tempo? O tempo é um só, os humanos que gostam de fragmentá-lo para caber nos ideários de produção.
O que podemos dizer hoje, é que as fronteiras são menores (para alguns, porque é ideia errônea pensar que todos tem acesso a tudo e que somos o pequeno centro umbilical), que a expectativa de vida em geral aumentou, mas que as reclamações são maiores, o tempo é menor e todos querem dias com mais de 24 horas.
O relógio virou uma moda sem precedentes de todas a cores formatos e estruturas. Para a parede, para o pulso, para correr, para monitorar, para despertar. Mas será que despertamos, acho que sempre estamos para ser despertados. Desperte-se do tempo.
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Apesar de tudo, o nosso despertador irá tocar amanhã.
Mayara Floss