quinta-feira, 21 de junho de 2012

Xingu

Foto: Camila Gauditano

Caros,

Incomoda-me, por isso escrevi sobre o Xingu o rio que será afetado pela construção da Usina Belo Monte após ler o Almanaque socioambiental do Parque Indígena do Xingu, estudar a estrutura da Belo Monte, a lei, assistir o filme “Belo Monte, Anúncio de uma Guerra”. Escrevi este poema de quem estudou, mas não viveu. A foto faz parte do o Almanaque socioambiental do Parque Indígena do Xingu e é da autoria de Camila Gauditano.

Xingu

Quem sou para falar do Xingu
Do povo, da água, do sentimento
Quem sou? Para falar de desenvolvimento
Mas me pergunto qual é o custo?
Deste Belo Monte de dinheiro
Se vão matar por inteiro
Até o próprio nome de água limpa
Vai se perder em mosquitos
Longe da sua língua Kamaiurá
Não é só a terra que se vai
Nem só o limite da área
São as raízes culturais
Que vão morrer afogadas
E não posso deixar de dizer
Que cada brasileiro
Vai morrer um pouquinho
Porque assim é fácil de matar
Honoráveis assassinos
De terno preto
Advogando com leis
E sem justiça, porque tudo
É parte de uma medida provisória
Para salvar o Brasil
Pinto o meu rosto
E peço desculpas aos: aweti, Ikpeng, Kaiabi,
 Kalapalo, Kamaiurá, Kĩsêdjê, Yawalapiti
Kuikuro, Mehinako, Nahukuá, Matipu, Yudja,
Naruvotu, Wauja, Trumai e Tapayuna
Peço desculpas também
Aos pescadores, agricultores,
Lavadoras, trabalhadores, cacaueros,
Nessas palafitas tão desumanas
Que tem os olhos cheios de água
E sentimento
Porque a alvenaria
Já se provou higiênica e melhor
Mas o homem “limpo” é o pior de todos
De colarinho branco
E lástima
Peço desculpa, porque tenho vergonha
De políticos de tantas ações
Em época de eleições
Mas com pouco por fazer
Direitos humanos, FUNAI, PAC, para que?
Só posso dizer
Que este país ainda tem muito
o que crescer


Mayara Floss

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...