“É difícil acreditar que um homem está a dizer a verdade quando você sabe que mentiria se estivesse no lugar dele.” - Henry Mencken
A mentira corrói as paredes do estômago. As crianças correm pela casa, mesmo famintas. Chego à cozinha. Hoje, consegui um pouco de farinha de milho para o jantar, espero ser suficiente. Colocarei um pouco de sal (o saleiro já está quase vazio) na comida. Quase não há gás, é bom deixar a chama baixa, talvez se eu só amornar a água consiga fazer algo um pouco saboroso.
A mentira corrói as paredes do estômago. Ligo o gás. Enquanto a água aquece, organizo as canecas de metal (algumas feitas de lata de café encontradas no lixo) em cima da pequena mesa. A mesa era um desses achados jogados na rua - comido por um grupo de cupins, porém ainda sustentava-se. Sentia-me um pouco cambaleante como a mesa, resistindo aos cupins do tempo. Hoje terá que ser isso, minha consciência caminha de um indefinidamente, dormir é um luxo para quem não tem o que comer amanhã. Mexo rapidamente a colher de pau, e derrubo delicadamente a farinha. A simples receita antiga que já alimentou outras gerações segue da mesma forma. Espero que a chama não apague.
A mentira corrói as paredes do estômago. Digo que não falta trabalho. As crianças não precisam saber, mas passo a maior parte dos dias pedindo emprego de porta em porta, dizendo que sou honesta e trabalho bem. Mas os tempos de hoje não acreditam mais na honestidade. Apenas vejo os muros subirem e os porteiros que não nos deixam passar do portão.
A mentira corrói as paredes do estômago. Agora essa comida a duras penas está pronta, ficou com a farinha um pouco embolorada, espero que as crianças não reclamem, dói-me o coração. Sempre me lembro dos filhos das minhas patroas, eles tem tudo para comer: leite, arroz, feijão, e até achocolatado – e sucessivamente os vejo reclamando dos menores detalhes. Dói-me a louça suja daquilo que minhas crianças não conhecem.
A mentira corrói as paredes do estômago. Levo a panela até a mesa e bato em algumas canecas:
- Crianças vamos comer?
Há uma movimentação rápida e o barulho dos pés batendo no chão seco. Observo a fome nos olhos e a expectativa com o jantar. Alguns espiam ansiosos a comida. Raciono exatamente a mesma quantidade para cada um, não precisamos de brigas.
No meio do jantar o filho mais novo pergunta:
- Já comeu mãe?
O tempo saboreia mais uma linha no rosto da mãe que sorri e responde carinhosamente:
- Sim filho, já comi antes.
A mentira corrói as paredes do estômago.
A mentira corrói as paredes do estômago. Ligo o gás. Enquanto a água aquece, organizo as canecas de metal (algumas feitas de lata de café encontradas no lixo) em cima da pequena mesa. A mesa era um desses achados jogados na rua - comido por um grupo de cupins, porém ainda sustentava-se. Sentia-me um pouco cambaleante como a mesa, resistindo aos cupins do tempo. Hoje terá que ser isso, minha consciência caminha de um indefinidamente, dormir é um luxo para quem não tem o que comer amanhã. Mexo rapidamente a colher de pau, e derrubo delicadamente a farinha. A simples receita antiga que já alimentou outras gerações segue da mesma forma. Espero que a chama não apague.
A mentira corrói as paredes do estômago. Digo que não falta trabalho. As crianças não precisam saber, mas passo a maior parte dos dias pedindo emprego de porta em porta, dizendo que sou honesta e trabalho bem. Mas os tempos de hoje não acreditam mais na honestidade. Apenas vejo os muros subirem e os porteiros que não nos deixam passar do portão.
A mentira corrói as paredes do estômago. Agora essa comida a duras penas está pronta, ficou com a farinha um pouco embolorada, espero que as crianças não reclamem, dói-me o coração. Sempre me lembro dos filhos das minhas patroas, eles tem tudo para comer: leite, arroz, feijão, e até achocolatado – e sucessivamente os vejo reclamando dos menores detalhes. Dói-me a louça suja daquilo que minhas crianças não conhecem.
A mentira corrói as paredes do estômago. Levo a panela até a mesa e bato em algumas canecas:
- Crianças vamos comer?
Há uma movimentação rápida e o barulho dos pés batendo no chão seco. Observo a fome nos olhos e a expectativa com o jantar. Alguns espiam ansiosos a comida. Raciono exatamente a mesma quantidade para cada um, não precisamos de brigas.
No meio do jantar o filho mais novo pergunta:
- Já comeu mãe?
O tempo saboreia mais uma linha no rosto da mãe que sorri e responde carinhosamente:
- Sim filho, já comi antes.
A mentira corrói as paredes do estômago.
As mães são capazes dos maiores sacríficios para com os seus filhos, a fim de lhes poderem dar o melhor que conseguem, de tentarem minorar as privações por que eles passam, ainda que isso impleque aumentar as suas próprias provações.
ResponderExcluirPena é que nas sociedades actuais exista um tendência para o aumento dos desiquilibrios potenciando cada vez mais o surgimento deste tipo de situações.
P.S.: É certo que o tema era "MÃE", mas convém referir que este tipo de sacrifícios, este tipo de amor é também extensível aos pais.
Utópico, realmente o sacrífico é extensível aos pais, porém aqui contemplei mais a mãe. (:
ResponderExcluirMuito comovente... Gostei muito de ler, pelo conteúdo e pela expressividade das palavras que empregaram!
ResponderExcluirOlá,
ResponderExcluirIsso sim é uma última gota do amor de mãe que nunca tem fim...
Abraços fraternais
Mayara, qual teu e-mail?
ResponderExcluirresolvi, por vários motivos, tornar meu blog restrito. Gostaria de continuarmos em contato e queria te enviar um convite pra poder, qndo quiser, visualizar meu blog ^^
Grande abraço! =D
Para quem quiser o contato:
ResponderExcluirfloaramoss@gmail.com
(:
Claro Thaís, não podemos perder este link.
Há tanta fome envergonhada hoje em dia. Mas o melhor é poupar as crianças a essa dura realidade.
ResponderExcluirEssa mãe conseguiu manter segredo de uma realidade cruel. Quantas não o estarão a fazer hoje?
É triste. Muito!
Violento, perturbador, real...
ResponderExcluirum grande texto.
Nítida fotografia do homem, de sua falta
de encaixe no desenho dos dias.
Voltarei para mais olhares, para mais
caminhos.
Abç.
Ricardo
Há algum tempo não vinha aqui, mas sua visita ao meu blog incitou-me ao retorno.
ResponderExcluirChorei. Algumas lembranças ressucitadas do mais fundo da memória... Mas gosto dessas lágrimas. Obrigada!
Beijos.