segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Ano novo


Foto: Fabiano Trichez

Os finais de ano, a despeito do verão, são todos chuvosos. Durante a comemoração já foram armadas barracas, feito tendas, e claro, tomado vários banhos de chuva. Em geral reza-se para não chover, reclama-se quando chove, e beija-se quando virar o ano em baixo da chuva. Porque se não for água, será champanhe.

Nos finais de ano, pelo instante de virar, enquanto ocorre a tão esperada contagem regressiva, tudo se acalma, todos se abraçam, tudo é perdoado (até o próximo ano começar). E os fogos de artifício fazem alguns sorrirem, crianças chorarem, cachorros ladrarem. Deve ser por isso que entre estampidos de garrafas estourando, rolhas voando, e pessoas cantando “Adeus ano velho e feliz ano novo” você olha para o céu, limpo ou não, com fogos de artifício, e apenas respira os ares iguais ao ano anterior, só que no ano novo.

Depois de toda a comemoração, choro, risos e perdão. Vão todos dormir, e é no silêncio da madrugada depois de todo o cansaço é que a mágica acontece. Você percebe que as pessoas só envelhecem no ano novo. E renascem com a mudança no calendário.

Mayara Floss

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Sérgio Luiz Pace


Foto do quadro de Sérgio Luiz Pce
    Ontem conheci os avós de um amigo, um casal que no próximo ano irá completar 60 anos de casados. Eu havia escrito após conhecer os quadros do Sérgio Luiz Pace através do livro que o filho dele construiu (que pode ser acessado clicando aqui). Mas nada como conhecer as pessoas, o artista é um pedaço do que faz. Conheci o Sr. Pace e a esposa dele também, a Eleny, mas para ela vou dedicar uma outra crônica outro dia. Para a minha surpresa, no final, da visita que eu já tinha certamente aprendido mais do que quando cheguei recebi ainda este quadro de presente. Esqueci de perguntar qual era o título do quadro, mas de qualquer forma, uma janela para a minha parede. O neto dele contou que ele demorou para ficar contente com o céu que estava pintando... Aqui vai a crônica que escrevi antes de conhecer o sr. Pace. 

Sérgio Luiz Pace 

   O branco é insuportável, para muitas pessoas. Isso muitas vezes motiva o poeta a escrever, a criança a sujar,  e o pintor a pintar. O mundo é colorido demais para deixar as paredes brancas e era isso que fazia o sr. Pace olhar para a parede da casa de um amigo e pensar: “quanta tristeza, tão monocromático”. E aí ele sentava no seu quartinho no fundo da casa, e sem nenhuma lição deixava apenas o pincel dançar na tela branca, era como se pintasse a parede do amigo.

    Tudo começou com pincéis desgastados e bisnagas de tinta quase no fim que não impediram ele de pintar a orquídea que viu no jardim quando os traços ficaram mais firmes. As suas pinceladas atravessavam a tela, assim como a pintura se tornava uma janela para olhar distante. E ainda ele escolhia para cada pedaço de parede o que mais combinaria com a aquela pessoa: para os mais tristes eram palhaços, para os que ficavam muito tempo na cidade eram araucárias, para os que estavam com saudades de casa uma casinha no meio do mato, para quem não via o mar alguns barcos alegres... Era assim, um quadro para cada humor, como se fosse uma extensão da pessoa que estava ali.

    Alguns foram tão presenteados que até tiveram que construir paredes novas na casa para colocar os quadros. Cada quadro tinha uma história, e cada história tinha um quadro. E assim ele foi pintando, primeiro sem óculos e hoje senta na frente do quadro branco com os óculos na ponta do nariz, com mais calma, enquanto as cores, velhas conhecidas quase se misturam sozinhas para formar as imagens.  O tempo foi delineando no sr. Pace o que ele foi pintando nos seus quadros, as linhas do seu rosto, seguem as linhas dos seus desenhos. E sabe, com 86 anos o tempo passa mais rápido e devagar, para quem faz a fina linha da sua vida arte para dividir.  

Mayara Floss

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Poetices


 Foto: Fabiano Trichez

Sim,
tenho a sensação
frequente
Que perdi minha alma poeta
E não mais que de repente
Ela volta voando
Em palavras
Com um vibrar no peito
E por mais duros e sisudos
Que ficam os dias
Reencontro ela aqui dentro
E me ganha
Sem medo
Em meio as poetices
Que nem percebo
Criar ao meu redor

Mayara Floss
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