sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Ciclo


Quantas voltas
No ponteiro
Revoltas do relógio
Ciclos sem volta
Pedaços de  giro
Fronteiras de tempo
E cruzadas revoltosas
Para completar
Esse caminho sem fim
Essas porções de mim
Espalhadas em volta
Em movimento
Que é todos pontos
Deste círculo
Que sempre recomeça
(re)Voltando

Mayara Floss

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Sobre fotojornalismo e lobos

   Antigamente, ainda no século XIX a fotografia jornalísitica tinha pouco espaço, os senhores de chapéu e suas damas preferiam as gravuras artíticas para ilustrar os jornais da época, para “proteger” as artes manuais da fotografia mecânica. Niépce por volta de 1830 que concebeu as primeiras fotografias e só depois de meio século que tiveram mais aceitação no meio jornalístico.

    O que levaram as fotos para a vanguarda dos jornais foram as Guerras, as mais fantásticas foram a  Guerra da Criméia, na Espanha, e a Guerra da Secessão, nos EUA, durante a metade do século XIX. E como a sociedade não podia parar com a invenção do telégrafo as informações corriam e a necessidade deste realismo e rapidez a fotografica consolidou o seu espaço.

    Foi por aí que a fotografia começou a se tornar uma forma de “olho do povo” ela era a denúncia, tinha a capacidade de provocar mudança e mostrar a verdade. Nisso, as máquinas foram evoluindo o que permitiu o surgimento da fotografia cândida (aquela em que o fotografado não sabe que estão tirando a foto). Aliás o culpado por este tipo de foto foi Erich Salomon, considerado o pai do “foto jornalismo”, sua máquina era prática e compacta, e isso deixava que ele fizesse imagens sem pose, roubadas e espontâneas. 

A fotografia que marcou a carreira de Erich Salomon

    E, hoje, com as máquinas cada vez mais compactas, a internet mais rápida, a  fotografia jornalística vive um momento onde busca se reafirmar como documento incontestável de uma realidade e sair da banalização da informação causada pela massificação dos meios de comunicação digital e da própria fotografia. Vivendo como lobos da própria alcateia.

    Vivemos em uma época em que qualquer pessoa com um celular provido de câmera é um fotojornalista em potencial (e também onde qualquer fotografia de um ex-algumacoisa roda o mundo em poucos minutos). A tendência é isso aumentar cada vez mais, por esse motivo, a nobre profissão de fotojornalista está escasseando cada vez mais. A tecnologia que outrora impulsionou milhares de pessoas a chegar a um patamar muito privilegiado de status, hoje as leva pelo caminho contrário, o da mediocridade. E seguimos remando e fotografando nesse mar de informações.

Marcha em Florianópolis, um exemplo de fotojornalismo hoje - por Fabiano Trichez

Um pouco de história da fotografia, vamos trazer mais textos assim.

Por Fabiano Trichez & Mayara Floss

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Armário




O tempo passa
Conforme trocamos de roupa
As lembranças são como os cabides
E vamos nos mudando.
Como o tempo ainda anda
O passado fica no armário
Pendurado nas horas
As roupas são eternos pedaços
Vamos trocando as gavetas
Mas elas são cheias de memórias
Guardamos as estações
Nas camisas, camisetas, casacos, calças,
calcinhas , calções, cachecóis, cuecas...
Batemos o pó das horas
Nos lenços que cobrem
E descobrem nossas faces
Vestimo-nos em nossa pele
Nada como as roupas
que ficam para trás
Como os tip-tops, vestidos, saias,
tudo da velha moda
Que fazemos parte
  
Mayara Floss

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Pirulito


É um desses dias de asfalto, correria e calçadas. Avisto ao longe um pai empurrando a carroça, não me pergunte como sei que é pai, mas sei. A força dos músculos na subida, o sol penoso, forte, cega os olhos. O que chama a atenção não é o homem, mas a pequena menina acomodada no meio do papelão, com um que parece uma casinha para ter um pouco de sombra, ela dorme. A mãe está longe nas lixeiras à frente procurando, papelão, papéis, garrafas, latinhas ou o que conseguir aproveitar – sorte era achar as latinhas que valiam mais.


A mãe já com o ventre se alongando novamente. Penso que mal teve tempo de ver a outra filha. Ao lado corre um cachorro faceiro que sempre anda com eles, incrível como nunca para de balançar o rabo e nunca guarda rancores, às vezes o homem esbraveja com o cão, mas quando desce da carroça afaga as orelhas caninas. Com o solavanco da parada a menina acorda, um pouco desnorteada.


A menina barrigudinha e com os cabelos crespos desgrenhados, preto, alguns dentes faltando, uma blusa que deixa aparecer a barriga, um calção e os pés descalços. Deve ter uns quatro ou cinco anos. Ainda assim, bonita na sua meninice. Vejo ela chamando o pai que está pegando uma monte de caixas de sapatos frente a uma loja, é o centro da cidade. As buzinas começam a tocar, ele está atrapalhando o trânsito. É difícil concorrer com os automóveis, e as paradas para coletar o papelão geram vários xingamentos, “vagabundo” é o mais comum. Ou “vai trabalhar vagabundo”. Questiono-me se não é exatamente o que ele está fazendo. A pressa moderna cega os olhos dos homens dentro dos seus carros velozes. Hoje não é diferente.


A mãe termina de colocar mais caixas de papelão que a menina vai pisando em cima para conseguir se acomodar novamente, nesse meio-tempo o pai sobe na carroça e dá outro solavanco porque o trânsito não pode parar, nem esperar. Percebo que dobra as costas ao ouvir os xingamentos, e apenas abaixa a cabeça e segue levando a carroça, parece que até o cavalo sente a briga do trânsito e segue com os passos mais apertados. A menina ignora tudo, esse é a impressão. E cutuca o pai pelas costas e pede algo no seu ouvido.


O pai faz sinal para esperar. E na próxima parada antes de descer pega uma mochila velha que estava de lado na carroça e puxa um pirulito. Um desses grandões coloridos, aquele redemoinho de cores, amarelo, vermelho, azul, verde... A menina segura no cabo do pirulito e esconde-se atrás daquele emaranhado de cores. Todo o rosto dela fica escondido em meio a uma lambida e quando a língua dela chega ao final da coluna solta uma gargalhada dessas doces, que enchem a nossa alma de alegria. Mas não vejo mais a sua face, sei que sorri por trás do pirulito e já começa avidamente outro processo de degustação.


Sentou as perninhas balançando no ar. o pirulito parecia mágico, furando o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio – como diria Drummond. E assim, permaneceram para sempre, uma família bela, como um filme em câmera lenta, o pai levando o carrinho, a mãe correndo na frente adiantando o serviço de encontrar o material para reciclar e, o sorriso da menina escondido atrás do grande pirulito: indecifrável e inesquecível.

Mayara Floss
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