terça-feira, 26 de junho de 2012

Uma nova descoberta


Anunciaram uma nova doença! Uma nova descoberta fantástica, mas sem cura. Um novo revolucionário e surpreendente diagnóstico. Todos os especialistas, peritos e conhecedores do assunto estão atentos aos principais sintomas, já esclarecidos muito claramente por consenso. Cuidado! Se você perceber as seguintes características principais: alguém amando demais ou de menos, expressando-se muito, querendo dançar, pular, fotografar, conversar sobre coisas sem ligações exatas, experimentando uma profunda tristeza, provocando, querendo viver e morrer. Mais de três características dessas e é diagnóstico certo, mas podem ser outras doenças alertam os especialistas. Fique atento! Caso você perceba saiba que esses sofredores precisam de tratamento e auxílio de saúde com doses de civilização, normalidade e mídia – mas as perspectivas de cura são escassas, porém os cientistas estão trabalhando nisso. Então, atenção, todos esses sintomas alucinantes, anormais e patológicos fazem parte desse mal, apelidado pelos pesquisadores como “o mal de poeta”.

Mayara Floss

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Xingu

Foto: Camila Gauditano

Caros,

Incomoda-me, por isso escrevi sobre o Xingu o rio que será afetado pela construção da Usina Belo Monte após ler o Almanaque socioambiental do Parque Indígena do Xingu, estudar a estrutura da Belo Monte, a lei, assistir o filme “Belo Monte, Anúncio de uma Guerra”. Escrevi este poema de quem estudou, mas não viveu. A foto faz parte do o Almanaque socioambiental do Parque Indígena do Xingu e é da autoria de Camila Gauditano.

Xingu

Quem sou para falar do Xingu
Do povo, da água, do sentimento
Quem sou? Para falar de desenvolvimento
Mas me pergunto qual é o custo?
Deste Belo Monte de dinheiro
Se vão matar por inteiro
Até o próprio nome de água limpa
Vai se perder em mosquitos
Longe da sua língua Kamaiurá
Não é só a terra que se vai
Nem só o limite da área
São as raízes culturais
Que vão morrer afogadas
E não posso deixar de dizer
Que cada brasileiro
Vai morrer um pouquinho
Porque assim é fácil de matar
Honoráveis assassinos
De terno preto
Advogando com leis
E sem justiça, porque tudo
É parte de uma medida provisória
Para salvar o Brasil
Pinto o meu rosto
E peço desculpas aos: aweti, Ikpeng, Kaiabi,
 Kalapalo, Kamaiurá, Kĩsêdjê, Yawalapiti
Kuikuro, Mehinako, Nahukuá, Matipu, Yudja,
Naruvotu, Wauja, Trumai e Tapayuna
Peço desculpas também
Aos pescadores, agricultores,
Lavadoras, trabalhadores, cacaueros,
Nessas palafitas tão desumanas
Que tem os olhos cheios de água
E sentimento
Porque a alvenaria
Já se provou higiênica e melhor
Mas o homem “limpo” é o pior de todos
De colarinho branco
E lástima
Peço desculpa, porque tenho vergonha
De políticos de tantas ações
Em época de eleições
Mas com pouco por fazer
Direitos humanos, FUNAI, PAC, para que?
Só posso dizer
Que este país ainda tem muito
o que crescer


Mayara Floss

Adejo


A semana adejou
E as horas aladas
Viajaram ligeiras
E os meus pés
Permaneceram no chão
Assistindo esse ruflar
Veloz do tempo
Afinal,
Quanto mais rápida
a decolagem
Mais curto é o voo

Mayara Floss

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Janelas


Olhe pela sua janela
À noite, e verá
Centenas de luzes acesas
De cada pequena janela.

Cada quadrado desses
É uma vida
Um cosmos
Uma complexidade
Tudo em um pedacinho
Iluminado de ser

Todos com histórias
Tristes e engraçadas
Sofrimentos e alegrias
E tão grandes naquela pequeneza
Que jamais compreenderás.

E quando se afastar
Desse universo
Verá que é
mais uma luz acesa
Em uma janela

Mayara Floss

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Democracia

 Foto: Fabiano Trichez

A democracia é um sonho que se tornou realidade e por isso nos desaponta, saídos da ditadura entramos na bem vista "Era democrática". Seja como for, justa ou injusta, plena ou não – é assim que a denominamos. Para os incontentes, a melhor justificativa é que no final a culpa sempre é do voto. Votar é o nosso exercício de cidadãos. Lutamos contra diversas injustiças, mas a culpa eterna é escolher um candidato. Somos livres para escolher (mas só a cada quatro anos). Se quisermos algo podem ser milhões de assinaturas, greves, marchas e afins – tudo pouco mexe no queijo da política. Evidentemente, que isso provém do nosso voto errado. Aliás, eu sempre voto errado. E meu erro termina em contas para salário, financiamento e projetos (ou pizza). E é claro que a culpa é minha da minha má escolha, do meu mau voto. A moda política do momento são os projetos, temos projetos de direitos, projetos de alimentação e projetos para a saúde. Todos projetados para um futuro indeterminado. Porém, direitos são poucos e democracia também. Hoje, vivemos a era do (sofá)tivismo onde curtir e compartilhar são as nossas "liberdades de expressão" limitadas a revoluções que não saem da tela do computador. E é de forma manifesta que exercemos a nossa “liberdade” democrática a quatro anos votando e assistindo televisão.

Mayara Floss

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Confissões


Não sou criativa
Sou uma ladra
Como uma gata
Na janela a espreita
Roubo as palavras
Escondo-as em mim
E meu eu acha-as
Grandes descobertas
Perdoem-me poetas
Mas enganam-se
Ao chamar-me de poetisa
Lamentavelmente
Estou a furtar
Estes sentidos do mundo
E chamá-los:
de poesia

Mayara Floss
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