sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Boca


Cuidado, que qualquer bar de esquina
Pode te embriagar
Que qualquer sufoco
Ardência e desânimo
Podem borrar a maquiagem
E quase conseguimos novamente
Contornamos a vida
Com um lápis
Mas é o lápis que risca
Os nossos limites
E se a lua tem uma face escura
O sol talvez possa também
não ser tanta luz
Talvez um quase brilho
Uma quase escuridão
Porque o cientificismo
Acaba com um olhar
E começa nos olhos
E de tantos quases, só prometa
Não desbotar o vermelho do batom
Porque os lábios
São o limite da solidão da alma
Mayara Floss

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Humanidade


Às vezes,
Alguém tem que soltar
a mão da roda da vida
Para fazer os outros
refletirem
Porque aos que ficam
Fica a partida
Por isso que manuseamos
a agulha do tempo
Que a cada ponto
Risca a nossa face
Enquanto costuramos
as nossas constelações
Para tecer o teto do mundo
E para aquele que vai
O porto não foi seguro
o suficiente
Enquanto nos abraçamos
Em marés de lágrimas
E vemos as asas se abrirem
contra a luz das estrelas
Não cabe nenhum entendimento
Nem explicação humana
Para as desepedidas

Mayara Floss

domingo, 23 de outubro de 2011

Imagem


Desde quando
Prendi-me neste corpo
Uma estátua
Cheia de movimento
Cheia de olho
Cheia de silêncio
Desde quando assisto
o mundo
Passo pelo tempo

Chove em meu corpo
Deságua em mim
E continuo preso a terra
Vejo esta guerra
E não consigo me mover

Quando fiquei estático
Apático, sem envelhecer
Já fui de vários arredores
Enfeitei alguns corredores
E servi de elogio
Para bem me fazer

Vim de um forno, de barro
E sou simplesmente
O molde quente
De uma mão apaixonada
Que criou-me
Para assim parecer

Meu corpo não sente nada
Embora de tanto querer
Mesmo quieto e parado
Digo cuidado, pois aqui dentro
Sinto mais do que muitos
Que fingem me ver

Mayara Floss

domingo, 16 de outubro de 2011

Petróleo: a droga da modernidade - Um “estudo” sobre o organismo global –


Os combustíveis fósseis – principalmente o petróleo – moveram a economia do mundo do século XX e movem a economia do século XXI. A injeção na veia da economia moderna do “ouro negro” propulsiona o coração das bolsas de valores e percorre rapidamente toda a rede e conexões da sociedade atual. O maior problema é quando essa rede leva o hidrocarboneto até o cérebro da nossa sociedade, atingido cada neurônio governamental criando uma euforia passageira que simultaneamente destrói o meio ambiente e as relações do viciado.

A droga altera o comportamento do usuário, precisamente porque suas moléculas clandestinas no sistema nervoso mexem no nível dos neurotransmissores, algumas substâncias fazem com que os impulsos se dispersem mais depressa, outras, como o petróleo, agem de forma inversa, ou seja, dificultam a passagem de recursos para todas as células populacionais criando um desequilíbrio no corpo social.

De acordo com o grau de uso da droga ela pode criar uma “farsa” para as células populacionais fingindo trazer uma mensagem que na realidade não existe. Infelizmente, a maioria dos usuários do petróleo passa rapidamente para esse estágio. Afinal, acontece o fenômeno de tolerância no qual são necessárias quantidades cada vez maiores da substância para que ela produza o mesmíssimo efeito no organismo.

A passagem da droga pelo organismo é traiçoeira, se logo no início despertam alguma sensação agradável para o corpo social, em seguida passam a fazer chantagem: o organismo passa a implorar sua presença. Esse círculo de dependência na sociedade moderna cria a idéia que a droga é imprescindível para o funcionamento do organismo.

A dependência da substância tóxica petróleo na sociedade moderna cria o medo das crises de abstinência o que a faz procurar a qualquer preço ter um estoque confortável para o vício. Caso falte a droga moderna, o organismo entra em guerra contra os amigos, parentes e nações vizinhas; e começa a se auto-destruir podendo resultar na morte de células populacionais evoluindo para a falência múltipla de órgãos – desde os rins da sociedade atual também chamado de ONU (Organização das Nações Unidas) que regula a filtração das atividades do organismo até o coração da economia social o que pode resultar na morte imediata.

As áreas mais afetadas com o uso contínuo da droga são a concentração e a coordenação motora atrapalhando o desenvolvimento de atividades que antes eram normais, deprimindo o sistema nervoso. O excesso do uso do petróleo pode ser potencialmente fatal se for utilizado junto com outras drogas conhecidas como o gás natural. Tal mistura pode liberar quantidades enormes de gás CO2 o que pode matar por asfixia o organismo global.

A administração dessas substâncias faz com que o a sociedade moderna não de conta de filtrar todas as sensações que elas criam. Desse modo podem levar ao colapso nervoso. Embora o cenário seja desanimador, já existem alguns remédios que conseguem acalmar o organismo e possivelmente ajudar na recuperação do viciado. Alguns, inclusive já são conhecidos da maioria dos especialistas pelo apelido de “energia renovável e limpa” que garantem o suprimento da maioria das necessidades do corpo global. Mas o alerta é grande, caso a dependência já esteja nos níveis caóticos causando guerras no ambiente dos usuários, e caos político nas células sócias o remédio deve ser administrado imediatamente em doses potencialmente maiores até que zere a dependência do petróleo.

Mayara Floss

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Temporalizando


Percebo o tempo passar ao entrar no mercado e ver a nova decoração. Ontem páscoa, hoje dia das crianças. Enquanto as bonecas, e carrinhos elevam-se entre as gôndolas, penso em quanto tempo passou. O que é “ver o tempo passar” ou “sentir o tempo” se estamos sempre temporalmente deslocados, queremos ser mais novos, mais velhos, mais... Mas nunca o que somos. Olho para as crianças correndo pelo supermercado com a maior novidade do momento o novo boneco de dinossauros, que eu lembro me divertir com um parecido há tempos atrás, me sinto criança enquanto minha memória brinca comigo trazendo o cheiro de uma boneca antiga. Passo pelo mercado pensando em o que é crescer e o que é o tempo. Não os adultos são sérios demais para a imaginação, o tempo já afogou as brincadeiras deles, melhor não pensar muito pela seriedade. Logo à frente duas meninas brigam para andar no carrinho de supermercado com o pai. Parece tudo tão vivo, mas ao mesmo tempo tão estático, deve ser o tempo modificando-se. Dando espaço e tempo para pensar. Nascemos envelhecendo e a vida não é a invenção mais antiga, nem mesmo do amor, mas o tempo veio primeiro, antes, também da luz. De tudo que passa, fica apenas a continuidade, o tempo. E não estou falando de anos, meses, dias, horas, minutos, ou medidas, mas da unidade que é a vida, o tempo. Envelhecer é o maior símbolo do tempo? Não, a consciência do tempo é o maior símbolo. Saber que em breve não estaremos mais aqui, que a vida é uma unidade simples, que começa do zero e tende ao infinito, mas que depois de um momento perde-se nos nossos sentidos simples. A melhor lembrança do tempo é a morte, e a morte a melhor lembrança da vida. O que são momentos, se não pegadas na areia, que com o tempo transformam-se em mar novamente, procura-se a felicidade, mas a felicidade é um sentimento velho, cheio de rancores dos momentos não felizes. Embora, a tristeza seja uma máscara da felicidade e vivamos para o tempo curar as tristezas e desmascarar as alegrias. Ou melhor, “tempo é experiência”, “tempo é dinheiro”, “tempo é vida”, “tempo é planejamento”, “tempo é agora”, no rol das possibilidades, fico perdida no tempo, porque continuo sem significado. Dessa forma vão falar que entre homens e gôndolas de supermercado existem mais coisas do que sonha a nossa vã filosofia. Porém, pergunto-me quando será que vou perceber o tempo novamente? Quando chegar o natal?

Mayara Floss
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