segunda-feira, 31 de maio de 2010

Teatro

Foto: Fabiano Trichez

Pela cidade
Todos me parecem
estranhos conhecidos
Amigos antigos
Que escreveram alguma história
e perdeu-se no tempo

Tudo parece mais verdade
Embora os sonhos continuem
do mesmo tamanho
(mania de ser tudo grande ultimamente)

Fantoches na calçada
- Bom dia, tudo bem, obrigado.
e o relógio imperdoável:
- Oi, estou atrasado.

Aliá, sempre estamos atrasados
Sempre atrás
E para trás ficam nossos passos
Entre um ponteiro e faixa de pedestres

Ensaiamos os caminhos
Decoramos as falas
e esquecemos que já somos
protagonistas do nosso teatro.

Mayara Floss

terça-feira, 25 de maio de 2010

Pescador

Foto: Fabiano Trichez

Os olhos perambulam a rede
E a mão contrai-se em contato
com os fios finos
As cicatrizes já nem são tão grosseiras
O tempo deu conta
Tracejou a face do pescador

Cada instante de sol e mar
chegou na sua pele
como cada peixe
chegou na sua mão

O sal transformou-se em lágrimas
como um barco distante
Que foi tragado pelo céu-oceano
Mas ainda ficaram eternas
as pegadas na areia
E as lágrimas já se transformaram
em sal, oh, pescador

Mayara Floss

terça-feira, 18 de maio de 2010

Roubaram

Foto: Fabiano Trichez

Roubaram a luz
E deixaram pendurada
Em algum lugar
Iluminando
a escuridão abandonada

Roubaram a escuridão
E a deixaram abandonada
Em algum lugar
Assombrando
a luz pendurada

Mayara Floss

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Cadeiras

Foto: Fabiano Trichez

Desta fileira de cadeiras
Desse corredor
Sobrando lugares
Faltando espaço

Onde vou sentar
Para deixar o ponteiro do relógio
Distorcer o tempo
Vencer o chão da espera

Continuo em pé
Continuo com minha planta
pregada ao chão
E a sombra das cadeiras

Diz que quanto mais se vive
Menos se tem para viver
E no limiar do tempo
Continuo (i)móvel.

Mayara Floss

terça-feira, 4 de maio de 2010

A porta

Foto: Fabiano Trichez

"É muito mais fácil matar um fantasma do que
matar uma realidade." - Virginia Woolf


As portas estão cada vez maiores
E as oportunidades menores
A beira da escada
Exitem tantos motivos
Que um abismo separa o abrigo
E deixa-nos sentados

Com frio
Com fome
Com medo

A sombra no canto da porta
Tem a esperança
Que os muros sejam menores
E que ao menos haja espaço
para os sonhos
Porém, há uma barreira

Sem piedade
Sem horizontes
Sem conveniência

Aliás, inconveniente
Presença censurável
De um mundo que tem todos os
números um
E não tem espaço para mais nenhum
Inviolável

Proibido entrar sem camisa
Proibido correr
Proibido cruzar esta cerca

Estamos cada vez mais esfomeados
Do tamanho da nossa fome
Vemos mais o anúncio
Do que o nosso estômago
E comemos os programas

Fome de novela
Fome de desenho animado
Fome de telejornal

Mesquinhos, continuamos sentados
Assistindo do nosso sofá
Enquanto outros sentam no cimento
Com os olhos cegos
de fome e a boca seca de ver

Faltam portas
Faltam janelas
Falta teto

E o nosso olhar de avestruz
Esconde-se no buraco da ignorância
Nós continuamos sentados
e eles continuam sentados
Esperando a porta abrir

Mayara Floss

Menina

Foto: Fabiano Trichez

E estes teus olhos sérios,
em que lugar ficou perdido teu sorriso?
Em que lugar frio
cairam as contas do colar
e (des)fizeram os teus sonhos?
Onde da tua infinita beleza
ficaram as tuas alegrias?

E estes teus olhos negros,
sérios,
me deixam com a garganta amarrada

E é essa indiferença
ou o meu excesso de meu amor
Que me perguntam:
- Em que lugar ficou perdido o teu sorriso?

Mayara Floss
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